A influência dos padrões estéticos
Ana Marília, 55, costumava, quando jovem, passar Coca-Cola no corpo e se expor ao sol logo em seguida. Por causa de boatos, pensava que esse processo traria um bronzeamento mais rápido, porém nunca viu resultados e nem consequências. Cada vez mais as pessoas se preocupam e se dispõem a fazer loucuras em nome da estética. A socialite americana, Kim Kardashian, se tornou inspiração de moda e beleza para mulheres de todo o mundo. Recentemente, ela revelou um truque que causou polêmica nas redes sociais. Para conquistar um decote “perfeito”, a modelo usa uma quantidade enorme de fita adesiva nos seios. Apesar de muito dolorosa, essa prática já é uma velha conhecida de algumas mulheres.
A pernambucana Maria Clara Chaves, 21, resolveu testar a técnica apresentada pelas primas alguns anos antes, quando queria usar um vestido decotado. Para ela, a experiência toda incomoda muito, mas a pior parte é na hora de tirar, quando ela sente muita dor. Apesar de tudo, afirma: “Eu repeti essa técnica outras vezes com outros vestidos. Eu sei que vou ter a dor, mas é uma coisa que compensa. É uma dor mínima diante da gratificação que eu tenho em poder usar a roupa que eu quero”. Maria acredita que é importante que mudanças estéticas sejam feitas pela própria vontade da pessoa e não por causa de um padrão de beleza da sociedade. “Cada um é dono do seu corpo e tem direitos sobre ele”, opina Maria. A menina também disse que acha válida a constante reavaliação do que as pessoas fazem por elas mesmas, e o que fazem porque os outros impõem. Ela completa afirmando que todos os padrões estéticos têm a interferência da sociedade.
Já na opinião de Anna Carolina Alencar, baiana de 18 anos, outra adepta satisfeita da técnica da fita adesiva, quando o assunto é autoestima, tudo é válido: “Muita gente deseja alguma coisa: um peito maior, uma boca maior. E se isso vai melhorar sua autoestima, acho que as pessoas devem se submeter a procedimentos radicais que vão levá-las ao resultado desejado”.
Uma paulista de 18 anos, que prefere não se identificar, tem uma história diferente. Desde os oito anos de idade, já fazia mudanças sérias na aparência, como exemplo uma escova definitiva que continha amônia, o que causou alergia e prejudicou o cabelo dela. A jovem contou que sempre foi muito preocupada com o corpo. E, como era acima do peso quando criança, acabou desenvolvendo certo trauma que a fazia recorrer a medidas extremas sempre que ganhava alguns quilos. Dentre elas, já programou o celular para despertar de hora em hora com a mensagem “você é gorda” a fim de evitar que ela comesse, além de começar a fumar para perder peso e ter redução do apetite. A menina comentou que na época via resultado, mas atualmente, se pudesse voltaria no tempo, porque virou uma dependente. E aconselha: “A gente tem que parar de fazer coisas em nome da beleza e fazer por amor próprio. Não tem nada de errado em querer ser mais bonita ou querer emagrecer, mas tem que ser com amor próprio, porque senão vira um ciclo vicioso”.
Mas não é só por causa de uma celebridade como a Kim Kardashian que as pessoas seguem um padrão ou exemplo. Desde o início da civilização, o povo (principalmente as mulheres), seguiram algum tipo de modelo de beleza relacionado ao corpo.
Vídeo representando o corpo ideal ao longo da história
Outra jovem que também faz sacrifícios para perder peso é Steffi Babini, 20, moradora da cidade de São Carlos. Ela conta que toma laxante antes de alguma festa em que usará um vestido mais justo. Quando está se sentindo inchada, a técnica é boa e traz resultado satisfatório. “Todo mundo sabe que não é bom. Mas parece que como não é sempre, não é errado”, ela comenta. Além disso, Steffi já fez cirurgia plástica no nariz. Apesar das dificuldades do pós-operatório, a menina confessa que gosta muito mais do seu nariz hoje. Ela completou dizendo que sabe que é uma submissão aos padrões, mas ao mesmo tempo eleva sua autoestima.
A Dra Gabriela Pierro Pedro, membro da sociedade brasileira de Cirurgia Plástica, afirmou que nos últimos anos houve um crescente aumento da procura por intervenções cirúrgicas e procedimentos estéticos da parte dos homens, mas as mulheres ainda lideram esse ranking. E as cirurgias que estão em alta para elas são o preenchimento de grandes lábios ou redução dos pequenos lábios vaginais. A doutora contou que também já fez redução do tamanho ou preenchimento dos lóbulos das orelhas, e também um "furinho" no queixo do paciente porque ele achava charmoso. A cirurgiã disse que já recusou vários pedidos. “O paciente precisa ter um problema real e querer uma mudança para uma melhora pessoal, para si mesmo e não para salvar um casamento ou chamar atenção de um parceiro, por exemplo”, ela finaliza.